Cancro do colo do útero: detetar e prevenir

Existem 2 formas de prevenção do cancro do colo do útero: a vacinação contra o HPV e o rastreio ginecológico.

Vacinação contra o HPV

A vacinação disponibilizada através do plano nacional de vacinação protege as mulheres da infeção por 9 tipos de HPV: HPV 6 e HPV 11 responsáveis pelo desenvolvimento de verrugas genitais e HPV 16, 18, 31, 33, 45, 52 e 58 que são os sete tipos de HPV mais frequentemente encontrados no cancro do colo do útero. A vacina é administrada num esquema de duas doses (0, 6 meses) a administrar a raparigas aos 10 anos. Atualmente, o Plano Nacional de Vacinação 2020, preconiza também a vacinação a rapazes aos 10 anos (desde 1 de outubro de 2020). Como a vacina não protege contra todos os tipos de HPV continua a ser necessária a realização de rastreio.

Rastreio

O objectivo do rastreio consiste na identificação das mulheres que têm lesões pré-cancerosas e é fundamental para detetar alterações cervicais antes da manifestação de sintomas.

A identificação e o tratamento das lesões pré-malignas pode prevenir a maioria dos casos de cancro do colo do útero e por outro lado, detetar cancros numa fase inicial em que o tratamento tem maior probabilidade de ser eficaz e curativo.

Nas últimas décadas, o número de casos de cancro do colo do útero diagnosticados anualmente tem vindo a diminuir, fenómeno que os médicos atribuem sobretudo ao sucesso do rastreio.

Podem ser utilizados como métodos de rastreio a citologia convencional (Papanicolau), a citologia em meio líquido e o teste de HPV ou a associação dos dois últimos (co-teste).

A citologia permite detetar as células infetadas pelo HPV enquanto o teste de pesquisa de HPV deteta o agente causal da doença, permitindo distinguir quem está realmente em risco de ter ou vir a desenvolver doença, pelo que são métodos complementares um do outro.

Papanicolau e Citologia em meio líquido

A citologia ou teste de Papanicolau (por vezes designado por esfregaço Papanicolau ou esfregaço cervical) é um procedimento simples utilizado para analisar as células cervicais que, em geral, não é doloroso. O exame de Papanicolau realiza-se num consultório médico ou clínica, durante o exame ginecológico.

O médico recolhe (“raspa”) uma amostra de células do colo do útero, colocando-as, posteriormente:

1.numa lâmina de vidro (citologia convencional) ou

2.então as células são mergulhadas num pequeno recipiente com líquido (citologia em meio líquido), a partir do qual um aparelho especial coloca as células nas lâminas. A citologia em meio líquido tem tido uma aceitação crescente pois tem uma leitura facilitada e permite a realização de testes complementares, como a pesquisa de HPV na mesma amostra.

Nos 2 tipos de exame de Papanicolau, o laboratório analisa ao microscópio as células nas lâminas para pesquisa de anomalias no formato das células.

Teste de HPV

O teste de HPV, vulgarmente designado por tipagem de HPV, deteta a presença da infecção por 14 tipos de HPV de alto risco, através de uma amostra colhida da mesma forma que a citologia, ou seja a partir de um esfregaço do colo do útero.

A amostra é analisada num laboratório sendo que maioria dos testes utilizados em Portugal é realizada em plataformas automatizadas. O resultado do teste é reportado como positivo ou negativo para HPV de alto risco, podendo de acordo com a marca do teste, identificar em simultâneo os tipos de HPV 16 e HPV 18.

O teste de HPV permite ao médico distinguir as mulheres que estão em risco das que não estão em risco de cancro do colo do útero e como é o método de rastreio mais sensível permite uma maior segurança de que a mulher não tem uma lesão pré-cancerosa.

  
  

Prevalência

O cancro do colo do útero é extremamente raro em mulheres com menos de 20 anos. O rastreio citológico antes dos 21 anos de idade coloca problemas acrescidos por se acompanhar de taxas mais elevadas de resultados falso-positivos do que em mulheres mais velhas, e porque a elevada presença de infeções transitórias por HPV se acompanham da deteção de lesões que regridem, onde intervenções terapêuticas intempestivas podem produzir sequelas a longo prazo.

Assim, o início do rastreio antes dos 21 anos e nos primeiros 3 anos de atividade sexual, não é recomendado.

Em resumo

As atuais recomendações clínicas para o rastreio do cancro do colo do útero:

  • As mulheres devem começar a realizar o rastreio aos 21 anos ou 3 anos após terem iniciado a sua actividade sexual (o que ocorrer primeiro) com citologia, devendo, caso a citologia seja negativa, repetir o rastreio de 3 em 3 anos. É consensual que no grupo entre os 21 e os 24 anos, o médico deve ser o menos interventivo possível.
  • A partir dos 25 anos de idade o teste de pesquisa de HPV de alto risco é o teste recomendado para o rastreio do cancro do colo do útero e pode ser realizado de 5 em 5 anos, graças à elevada segurança associada a um teste negativo. Uma mulher com um teste de HPV negativo em âmbito de rastreio, não deve repetir o teste nos próximos 5 anos.
  • As mulheres com um teste de HPV positivo para outros tipos que não o HPV 16 ou 18, devem realizar uma citologia. As mulheres que estejam infetadas pelos tipos HPV 16 ou 18 ou que tenham simultaneamente um teste de HPV positivo e uma citologia com alterações, devem realizar uma colposcopia.

  • As mulheres com idade superior a 65 anos e que, durante os últimos 10 anos, tenham realizado pelo menos três exames de Papanicolau com resultados normais ou um teste de HPV negativo aos 65 anos têm um risco muito reduzido de vir a desenvolver cancro, pelo que devem discutir com o seu médico a continuação do rastreio.
  • As mulheres que tenham sido submetidas a histerectomia (cirurgia) para remoção do útero e do colo do útero, também designada por histerectomia total, não necessitam de realizar o rastreio do cancro do colo do útero, a não ser se a cirurgia tiver sido realizada para tratamento de lesões pré-cancerosa.

Há situações que podem “esconder” células anómalas ou afectar os resultados do teste de Papanicolau e/ou teste de HPV. Os médicos sugerem:

  • Não efetuar irrigação vaginal nas 48 horas anteriores ao exame.
  • Não ter relações sexuais nas 48 horas anteriores ao exame.
  • Não aplicar medicamentos vaginais (excepto por indicação expressa do médico) ou espumas, cremes ou geleias contraceptivas nas 48 horas anteriores ao exame.
  • Evitar o rastreio durante o período menstrual.

Quando é cancro

Na maioria dos casos, as células anómalas detetadas no exame de Papanicolau não são cancerígenas. Contudo, com o passar do tempo, algumas alterações do colo do útero podem degenerar em cancro.

  • LSIL (lesão pavimentosa intraepitelial de baixo grau): as LSILs são alterações celulares moderadas na superfície do colo do útero. Essas alterações são, na maioria das vezes, provocadas por infecções por HPV. As LSILs ocorrem sobretudo em mulheres jovens. As LSILs não são consideradas cancro. Mesmo sem tratamento, a maioria das LSILs mantém o seu estado ou desaparece com o tempo. Contudo, algumas tornam-se lesões de alto grau que podem evoluir para cancro, pelo que está recomendada a colposcopia.
  • HSIL(lesão pavimentosa intraepitelial de alto grau): as citologia HSIL têm um aspecto muito diferente do das células normais. As mulheres com uma citologia HSIL têm um risco elevado de ter uma lesão pré-cancerosa ou cancro pelo que está recomendada a realização de colposcopia.

Poderá querer colocar ao médico as seguintes questões sobre o rastreio:

  • Quanto tempo demoram os resultados depois do exame?
  • Quanto custa(m) o(s) exame(s)?
  • O meu seguro de saúde abrange exames de rastreio?

Descarregue

infográfico sobre testes e deteção precoce.

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